8 Dicas de quem domina a arte de viver com o ordenado mínimo | Casa


Viver com o salário mínimo não é fácil, mas é a realidade de muitos portugueses. Reunimos algumas dicas de quem sabe o que é viver com pouco.

Contar os tostões e fazê-los chegar para tudo é uma arte ao alcance de poucos. Em Portugal, onde o salário mínimo é dos mais baixos da União Europeia, fazer muito com muito pouco tornou-se quase um estilo de vida. E há pessoas que fazem verdadeiros milagres da multiplicação.

Falamos da avó que desfazia os casacos dos bebés para aproveitar a lã e fazer novas peças. Da tia que era especialista no menu “Restos de ontem”. Da mãe que ressuscitava umas calças rasgadas com um remendo giro e original.

Viver com o salário mínimo é um desafio diário e fomos procurar as técnicas de quem sabe fazer escolhas inteligentes. Neste artigo vamos partilhá-las consigo.

COMO VIVER COM O SALÁRIO MÍNIMO

Em Portugal, em 2022, o salário mínimo é de 705 euros, um dos mais baixos da União Europeia. Embora sendo o oitavo aumento consecutivo desde 2015, altura em que se situava no 505 euros, continua a ser um dos mais baixos da União Europeia. De acordo com a Pordata, o Luxemburgo tem o salário mínimo mais alto, situando-se nos 2.201,93€, seguido da Irlanda (1.723,80€) e da Holanda (1.692,90€). Portugal ocupa o 10º lugar e a Espanha ocupa o 7º lugar com 1.108,33€

Agora o bom: apesar de tudo, este valor representa um aumento de 220 euros face ao salário mínimo de há dez anos, quando o salário mínimo era de 485 euros, e uma subida de 40 euros face ao valor de 2021. E de acordo com o Governo este aumento irá abranger cerca de 880 mil trabalhadores.

Mas fica na dúvida sobre como é possível viver com o salário mínimo?

Não existem dados atualizados, mas de acordo com os mesmos dados, em 2018, 22,21% da população ativa do nosso país recebia o salário mínimo e era assim que vivia.

Mas basta ter uma casa para gerir para compreender que 705 euros, nos dias que correm, não dão para grandes luxos – menos ainda se tivermos menores a cargo, com todas as necessidades que lhes são inerentes.

Não sendo ainda possível plantar dinheiro e esperar que cresça, as famílias foram desenvolvendo táticas de fuga à pobreza e construíram verdadeiras tradições financeiras.

1º Aproveite todas as ajudas

Do Serviço de Ação Social Escolar (SASE) para os miúdos na escola aos passes sociais dos transportes públicos, à tarifa social da Internet, tarifa social da eletricidade; tarifa social da água, aos preços bonificados das creches nas IPSS, todas as ajudas são bem-vindas quando tem de se viver com o salário mínimo.

Assim, é muito importante que veja onde gasta mais dinheiro e procure benefícios para quem tem baixos rendimentos – pode haver boas oportunidades de reduzir a despesa e viver um pouco melhor sem sacrificar o bem-estar da família.

Domine descontos e promoções

Quem vive com o salário mínimo sabe que não pode dar-se ao luxo de deixar escapar uma boa promoção no supermercado. Na verdade, quem vive do salário mínimo organiza a vida de acordo com as promoções e é o supermercado que decide a ementa do dia. O feijão está em promoção? O jantar é feijoada. Amanhã há bifes a metade do preço? Bitoque para todos!

Planear a semana tendo em conta os catálogos pode fazer a diferença entre ter a mesa cheia todos os dias ou ter de abdicar do jantar para que não falte almoço para os filhos no dia seguinte. E não se guie apenas por um catálogo – todos os supermercados fazem promoções e uma visita alternada a cada um pode encher-lhe o frigorífico sem arruinar a carteira logo na primeira semana do mês.

Assim, da próxima vez que apanhar a tia-avó a guardar religiosamente o folheto da mercearia, pense que, poupar no supermercado também podia ser a sua estratégia para estender o pouco que ganha.

Não tenha vergonha de comprar barato

Já lá vai o tempo em que comprar na loja dos chineses ou na feira era visto como algo humilhante. Há, aliás, muitas lojas dos chineses com roupa da mesma qualidade da que compra no centro comercial. E nem vamos falar na quantidade de lojas do comércio tradicional que vão abastecer-se precisamente a armazéns que importam tudo da China.

Comprar barato não tem de ser o mesmo que comprar feio. E pode crer que já cobiçou muitas peças de roupa sem saber que vinham de lojas conhecidas pelos preços baixos. Há coisas que valem pela figura que fazem e que, bem combinadas e trabalhadas, parecem tão caras como as que verdadeiramente custam muito dinheiro.

Comprar barato não tem de ser uma estratégia exclusiva para roupa: pode comprar acessórios, peças de decoração, utensílios de cozinha… não tenha vergonha de tirar uma manhã para passear na feira da sua cidade. Vai surpreender-se com o que encontra e até arriscamos dizer que vai ver peças que encontrou noutras montras mais vistosas.

E lembre-se que existem lojas com roupa em segunda mão a preços muito baratos onde pode comprar a preços de verdadeira pechincha.

Coma o que a época lhe dá

Falávamos ali em cima do facto de, em muitos lares portugueses, as promoções dos supermercados ditarem as ementas, e agora estendemos a teoria à mãe Natureza. Se a época é de morangos, porquê comprar maracujás?

A fruta da época é muito mais barata do que a fruta importada e ainda tem mais probabilidade de ser mais saudável e com menos químicos à mistura. Aliás, como imagina que a fruta exótica é colhida, tratada e conservada para lhe ser vendida em pleno inverno?

A cereja no topo do bolo de quem vive com o salário mínimo é ter uma pequena horta e algumas árvores de fruto. Além de tornarem um jardim mais bonito, dão frutas e legumes suficientes para alimentar regularmente uma família a custo zero. Só tem de regar e tratar com cuidado!

Aqui não resistimos a chamar-lhe a atenção para outra tradição entre os que estão habituados a viver com pouco: a economia informal. Repare que quem tem fruta e legumes em casa está sempre disposto a partilhar a colheita com amigos e família: é que, se cada um plantar um produto diferente e partilhar a colheita, todos ficam com maior variedade de alimentos para consumir a custo zero e desperdiça-se menos (acredite que uma família de quatro pessoas não dá conta de todas as laranjas de uma laranjeira, por exemplo). É praticamente o ponto de perfeito equilíbrio entre a oferta e a procura!

Faça omeletes sem ovos

Claro que não falamos no sentido literal (embora quem vive com o salário mínimo pareça muitas vezes ter esta capacidade), mas daquelas situações em que um produto mais caro pode ser substituído por um produto mais barato e com características semelhantes.

Pense, por exemplo, no caso da proteína: ela está num suculento naco de bife, mas também está numa boa dose de grão de bico. Às vezes, tudo o que precisa está à distância de uma simples pesquisa nutricional.

Multiplique

Para saber viver com o salário mínimo, multiplique. Conhece a expressão brasileira “por mais água no feijão”? Pois bem, é uma das estratégias mais populares entre as famílias que têm orçamentos muito apertados para gerir.

Quem diz mais água no feijão diz mais água e farinha nas pataniscas, para o polme render mais, ou diz iogurtes caseiros feitos a partir de um único iogurte normal. Quando o tema é fazer com que o jantar pareça mais do que realmente é, não há ninguém melhor para consultar do que quem conta os tostões todos os meses.

Abdique dos luxos

É uma pena, mas nem todos podemos jantar fora sempre que nos dá vontade. Para as famílias mais carenciadas, esta é uma realidade recorrente e por isso quem vive com o salário mínimo evita até sair de casa de barriga vazia.

Se vai às compras, prepare-se antecipadamente e leve um lanche consigo, ou calcule o tempo que tem até começar a sentir fome. Se parar as compras antes de a fome chegar, a probabilidade de se sentar à mesa de um restaurante é menor e o seu bolso, claro, agradece bastante.

Não se compare com os outros

Deixamos este conselho para o fim de propósito. Claro que, nos dias que correm, é impossível não nos compararmos com o que vemos nas redes sociais, mas tem de manter sempre presente que cada um sabe da sua vida e, no seu caso, não cabe a ninguém além de si fazer uma boa gestão dos recursos disponíveis.

Comparar o que temos com o que os outros têm é uma armadilha em que facilmente caímos e nem é preciso sermos financeiramente carentes: há sempre alguém que tem (ou parece ter) mais dinheiro do que nós, melhores carros do que nós, melhores viagens do que nós, melhores vidas do que nós.

Não se deixe levar pela ilusão de que vai chegar ao mesmo estatuto comprando coisas iguais, porque vai acabar a gastar dinheiro que não tem em coisas de que não precisa. Viva para si, por si, com o que é seu. Vai ser muito mais feliz.

Viver com o salário mínimo não é tarefa fácil, mas se seguir as dicas… Vai aliviar as rotinas e ter uma melhor relação com o seu dinheiro.

Fonte: Ekonomista (Jornalista Marta Maia)

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